Preferi endorfina à comida sem gosto. Saí bisbilhotando todas as caçambas, cheirando os amontoados de lixo e fitando as filas dos restaurantes. Fui feito o Jonh, personagem do Neil Gaiman que se perdeu num passeio porque as ruas se embaralharam e as pessoas nunca chegavam perto dele. Um senhor lhe esclareceu que toda cidade possuía alma, estava viva, e, assim sendo, às vezes as cidades sonhavam. Aconteceu dele se perder na viagem onírica da metrópole, sem saber se aqueles lugares e pessoas, de fato, existiam, ou estavam sendo sonhados pela cidade.
Gostei de pensar que pedalava num asfalto sonhado.
Pesadelei que estava presa no passado.
Que andava numa rua em que todas as portas de casas eram iguais.
Cacei, como um cão, fuscas e efemérides. Mas só encontrei os fuscas.
Ouvi conversas sobre chefes perversos e filhos doentes. E reclamações sobre mulheres afobadas. “Não se afobe não que nada é pra já”, pensei. E sorri dos sábios, em vão, tentando decifrar por que uma garota sem carro, sem almoço e quase sem cabelo estava tão sorridente. É tudo uma questão de por onde se vê a rua. E a vida.
Nati, eu gosto que vc vê sempre a beleza nas coisas! Com todo peso e sabor!
Bj0, frô